domingo, 30 de agosto de 2009

III Encontro do GEPPAN (por Tiago Ribeiro da Silva)

O último encontro do GEPPAN, no primeiro semestre de 2009, aconteceu no dia 20 de junho. Embora a correria de fim de período e a sobrecarga de tarefas relacionadas à escola ou à faculdade tenha impossibilitado parte do grupo de estar fisicamente presente, a reunião ocorreu normalmente, começando com as considerações sobre o FALE daquela manhã e a leitura do texto a respeito do encontro do grupo no mês anterior, escrito pela professora alfabetizadora narradora Gisele.

Em seguida, as questões levantadas pela leitura e discussão do texto Trangressões Convergentes, de Geraldi,Fichtner e Benites, incitaram um debate acerca da linguagem, mormente em relação aos desafios a serem enfrentados no trabalho com crianças surdas; debate esse fomentado pelo depoimento da professora Gisele, que (com)partilhou sua experiência repleta de descobertas e desafios na (con)vivência e prática com uma aluna surda.

Conseguintemente, por meio da discussão emplacada, do diálogo entre o grupo e deste com o texto lido, chegamos à conclusão de que a língua é mais do que um objeto de comunicação: trata-se de uma dimensão contitutiva do sujeito, pois é através dela que se processa o pensamento, de forma que este e a linguagem são instâncias indissociáveis, como nos diz Vygotsky.

Desta forma, encarando a linguagem como uma dimensão contitutiva do sujeito e conscientes do inacabamento humano, tão bem expresso por Paulo Freire, não podemos comungar com o equívoco epistemológico - já superada, entretanto muito presente no senso comum - de que a fala é algo natural. Ora, porquanto se trate de uma instituição social só podemos falar da língua como uma "estrutura" viva sócio, histórica e culturalmente dada. Aliás, esta questão nos põe outra questão, qual seja: alfabetização.

Ao pensarmos na alfabetização, algumas interrogações latentes irrompem desenfreadas: o que é aprender? o que é ensinar? quem aprende ensina? e aprender a ler e escrever, como é?

Intentando responder esses questionamentos, sem, no entanto, encerrá-los, a ideia de zona de desenvolvimento proximal, trazida por Vygotsky, pode ser considerada como uma importante contribuição. Não obsatante,a assertiva de que somos seres contadores de história, isto é, narradores, oferecida por Connelly e Clandinin, corrobora que aprender e ensinar são processos inelutavelmente indissociáveis, por meio dos quais, ao se formar, o sujeito contribui para a formação do outro.

Assim, dando-nos a ler, aprendemos e propiciamos o aprendizado, a reflexão... Enfim, como disse a professora Carmen durante o último encontro, "só através da relação com o outro o homem consegue se relacionar consigo mesmo".

A frase acima citada provocou a discussão da questão sobre a política educacional adotada pela atual Secretaria Municipal de Educação da cidade do Rio de Janeiro, cuja pretensão é "realfabetizar" os alunos ditos "fracos", "atrasados", "problemáticos", enfim, aqueles meninos e meninas colocados no lugar da falta, aqueles que vão, pouco a pouco, espichando o número de dissidentes e transeuntes da/na escola, por a terem abandonado ou passado por ela sem, contudo, serem verdadeiramente tocados.

Diante de tudo isso, fica a pergunta: como a política do "Se Liga" poderá contribuir significativamente para uma relação outra dos educandos com a leitura e a escrita se, desde o princípio, seu bê-à-bá cerceia a possibilidade da autoria, do sentido, do prazer pela produção própria? Há, aliás, produção própria aí?

Não podemos, de forma alguma, partilhar desse posicionamento conceptual, desta perspectiva mecanicista, acrítica e sem sentido, que está implícita e explícita na política educacional carioca corrente. Destarte, resta a afirmação de que queremos muitas coisas, mas, o que queremos mais, é nunca deixar de querer... Por isso, parafraseamos Paulo Freire para terminar este texto: gostamos de ser humanos, porque mudar é tão difícil quanto possível.

Um comentário:

Unknown disse...

Como sempre meu amigo querido demonstra seu talento e sensibilidade.
Beijos Priscila Mendes